Warner adia “Mulher-Maravilha 1984” pro Natal, mas resultados de “Tenet” e “Mulan” mostram que ação não basta
Enquanto relatórios de bilheteria apontam que principais mercados estão distantes dos números tradicionais de arrecadação, especialistas confirmam que retomada só acontece daqui um ano
Não demorou nem uma semana para o impacto do fraco desempenho de “Tenet” na estreia nos Estados Unidos começar a afetar mais uma vez o calendário de estreias de Hollywood. A primeira vítima não poderia ser outra: “Mulher-Maravilha 1984”, que depois de passar as últimas semanas firme na previsão de lançamento para o dia 2 de outubro enfim foi adiado pela WarnerMedia para 25 de dezembro, o famigerado dia de Natal.
A decisão marca a terceira ocasião em que a companhia se vê obrigada a deixar para depois a estreia da continuação estrelada por Gal Gadot. Originalmente previsto para 5 de junho, o filme foi primeiro realocado para 14 de agosto e depois – com o súbito otimismo da indústria – movido para a então data no começo de outubro. A mudança também dá sinais de que é a primeira de muitas, porque em tese “Mulher-Maravilha 1984” estreia agora uma semana antes do debute nas telonas de “Duna”, o outro colosso milionário da Warner que recentemente deu início a sua divulgação – mas não revelou data de estreia no primeiro trailer.
Tudo é muito nebuloso no momento graças aos últimos sinais dados pela bilheteria. Depois de meses com atividades paralisadas, não apenas os cinemas começaram a promover a reabertura (com direito a algumas campanhas bem questionáveis) como os grandes estúdios bancaram uma aposta no lançamento de grandes produções de olho na “cauda longa” do público, começando pelo “Tenet” de Christopher Nolan que se tornou sinônimo de “reabridor de atividades” na indústria. O problema é que o plano não deu certo: depois de superar expectativas na Europa, o longa orçado em US$ 200 milhões fez pífios US$ 20 milhões de bilheteria no lançamento nos EUA, mesmo com 60% do circuito aberto.
As más notícias não param por aí, porém, pois os filmes de menor escala que “testaram as águas” do circuito estadunidense – o que inclui apostas mais “garantidas” como “Novos Mutantes”, que já tinha feito meros US$ 7 milhões na abertura – também relataram quedas tradicionais de audiência em sua segunda semana nas telonas, mesmo ampliando drasticamente sua presença nos cinemas. É um desempenho que coloca em cheque toda a teoria da “cauda longa” da indústria, dado que o público pelo visto não vai gradualmente fornecer os mesmos índices de audiência às produções em cartaz no decorrer das semanas.
Enquanto a situação nos Estados Unidos já sugere inviabilização, a China deixa ainda mais evidente o grau do impasse que os cinemas se encontram em termos financeiros. De acordo com a Variety, enquanto “Tenet” registrou pífios US$ 42,5 milhões depois de oito dias em cartaz no país, a Disney viu sua ideia de “Mulan” se tornar a maior bilheteria da história no território começar a ir por água abaixo ao fazer pouco mais de US$ 8,05 milhões em seu dia de estreia. Todos estes números estão muito abaixo do que Hollywood se acostumou a ver nos últimos meses – bom lembrar, “Vingadores: Ultimato” a pouco mais de um ano fez história na China ao arrecadar US$ 107 milhões só no primeiro dia de exibição.
O remake em live-action também deve ficar bem abaixo do que é considerado um “sucesso arrasa-quarteirão” pelo estúdio, pois especialistas já projetam uma carreira total de US$ 45,5 milhões no território chinês perante as limitações da pandemia, a concorrência com a pirataria depois de sua estreia na Disney+ e a restrição midiática imposta pelo governo por conta de polêmicas políticas envolvendo as filmagens em Xinjiang – local onde o estado teria promovido massacres em campos penitenciários.
Todas estas informações reforçam o óbvio, que querendo ou não o momento não é de colocar nas telonas as produções mais “nobres” – e portanto mais caras – dos estúdios. Ainda que a pressão financeira e os resultados dos dois últimos trimestres forcem os estúdios a buscar soluções para diminuir o impacto da pandemia em seus negócios, o fato é que o circuito de cinemas ainda é visto pelo grande público como um risco enorme de saúde, distante da falsa sensação de segurança promovida por estabelecimentos abertos – e não há campanha de reabertura que vá anular este status.
A questão é que uma previsão de retomada segura também se encontra muito distante. Além de confirmar os riscos de se assistir um filme nos cinemas neste momento, diversas autoridades de saúde já apontam que vai demorar pelo menos um ano após a descoberta de uma vacina para que comece a ficar seguro mais uma vez frequentar espaços públicos e aglomerações como as providenciadas pelas telonas. A expectativa mais otimista seria o segundo semestre de 2021, mas apenas se uma vacina de fato for encontrada até o fim de novembro deste ano.
É um problema e tanto: os cinemas estão fechados, mas a indústria que tira seu sustento em torno do circuito exibidor não tem como ficar parada tanto tempo sem começar a ruir por dentro, e continuar a adiar seus grandes projetos não é suficiente. Mais do que nunca, está na hora de começar a procurar alternativas que não passem por colocar em risco a vida do público – seja no streaming, na locação digital, nos drive-ins, na mídia física ou em qualquer outro departamento que não exija amontoar-se em uma sala por duas horas.