“South Park” é banido da internet na China depois de episódio criticar censura do país
Embora nunca tenha sido exibido oficialmente no país, animação do Comedy Central desapareceu dos registros dos principais sítios chineses após lançar "Band in China" na semana passada
“South Park” já há mais de vinte anos é famoso por fazer piada com tudo e todos, mas um episódio recente da animação pelo visto foi longe demais para os padrões da censura chinesa. Depois da exibição do capítulo “Band in China” no último dia 2 de outubro, a série do Comedy Central pelo visto foi eliminada dos registros da internet local, simplesmente desaparecendo da noite pro dia.
De acordo com a InkStone News, pelo menos até a data de hoje (07/10) todas as resenhas das 23 temporadas da série criada por Trey Parker e Matt Stone desapareceram dos registros do popular site de resenhas nacional Douban. Além disso, não há mais qualquer citação à produção quando se busca seu nome na rede social Weibo e a página oficial da animação no fórum Baidu Tieba foi suspensa e agora apenas exibe a informação de que “De acordo com a regulação e a lei relevante, esta seção está temporariamente fechada”. Outros sítios importantes no país como o Youku e o WeChat também apontam o término de relações com a produção.
O motivo sem dúvida passa pelo tema do segundo episódio da 23° temporada do programa, cujo texto escrito por Parker faz duras críticas aos órgãos de censura do país e, mais exatamente, a relação que a China atualmente nutre com Hollywood. As duas tramas maiores de “Band in China”, afinal, se relacionam diretamente com o assunto, acompanhando simultaneamente os esforços de um produtor hollywoodiano em fazer uma cinebiografia da banda de rock de Stan e as dificuldades enfrentadas pelo pai do garoto, Randy, ao tentar vender maconha no país.
O tom de sátira segue o padrão efervescente da série, naturalmente. Enquanto Stan é obrigado a mudar o tom de seu discurso para ver o filme baseado em sua vida ser lançado no mercado chinês (e chega a dizer que “Nós vivemos em uma época onde os únicos filmes que as crianças americanas vão ver são aqueles aprovados pela China”, como você pode ver no clipe abaixo), Randy é pego pela censura do país e é mandado para um campo de trabalho, onde em determinado momento é visto trabalhando com o ursinho Pooh – um personagem habitualmente proibido no território chinês por ser muito usado como comparação jocosa ao presidente Xi Jinping.
Além da China, menções à Disney são recorrentes no episódio, que inclui o retorno da versão paródica de Mickey Mouse e uma cena com inúmeros personagens do estúdio e seus subsidiários em um voo para o país.
A sátira acontece obviamente pela relação cada vez mais profunda entre os estúdios hollywoodianos com o país, que se tornou sua principal arma para bater recordes cada vez mais abstratos de bilheteria – incluindo aí “Vingadores: Ultimato”, cujo maior trunfo para superar “Avatar” e se tornar o filme com maior arrecadação da história foi justo o público chinês. A auto-censura do circuito também é outro elemento importante nesta equação: como lembra o Deadline, filmes como “Bohemian Rhapsody” e “Homem de Ferro 3” passaram por “ajustes” para conseguirem aprovação da censura chinesa e serem exibidos no país.
A parte mais intrigante em toda esta história é que embora tenha sido varrida do mapa na região, “South Park” até hoje nunca foi exibido oficialmente na China, perseverando no território graças à pirataria. O banimento da animação no país, porém, deve ser mais forte do que nunca agora.