Design above the line e a falta de discernimento dessa geração consumista
Como todos vocês viram no mês passado, a Apple passou por maus lençóis ao lançar o iPhone4s. “Não era o combinado”. Os consumidores do mundo inteiro esperavam pela quinta versão do celular, e no entanto…
Me lembrei do designer Peter Domer, que distingue o design em duas vertentes: uma preocupada com a funcionalidade e questões essencialmente vitais e tecnológicas de um objeto (design below the line), e a outra diretamente relacionada a forma e a aparência – o design visto de um ângulo artístico (design above the line).
Como exemplos do Design BTL, podemos citar a clássica (e ainda moderna) poltrona Barcelona, projetada em 1920 por Mies van der Rohe. Ou mesmo a câmera 500C da Hasselblad, que embora tenha surgido em 1957, é comercializada até hoje (e que com um back digital de 50 megapixels acoplado se torna a Ferrari da fotografia). Seja mobiliário, tecnológico, doméstico ou urbano, falamos sobre uma vertente preocupada com aspectos que elevam um produto em todos os quesitos (tanto no ponto de vista do consumidor, como no do fabricante).
Mas hoje é o Design ATL que está mais presente no nosso cotidiano. Produtos – seja bem de consumo ou capital – que atendem uma necessidade temporária e que estarão defasados em 8 ou 10 meses. Às vezes até menos. Um design que se preocupa mais com as características externas do objeto do que com um aprofundamento adequado na estrutura, no ciclo de vida útil e no descarte. Pois o grande foco é encantar e vender. E quanto mais, melhor.
A própria Apple (acho ótimo citar ela, pois o portfólio de produtos é bem conhecido por todos vocês) não é tão vilã quanto parece: embora ela possua produtos ALT (como o iPhone e o iPad, que são remodelados constantemente), também tem casos BTL {como o MacPro, que sempre evolui por dentro, mas não muda quase nada na aparência, ou mesmo os antigos PowerBooks [que mantiveram a aparência quase igual por 5 anos], e os novos MacBooks Pro [que continuam firmes e fortes há 3 anos]}. Dessa forma o consumidor não se sente defasado pela aparência (que é inteligente e feita pra durar), mas sim pela performance – coisa que realmente interessa. A industria de automóveis faz o mesmo: novo farol, retrovisor e volante. Pronto! Versão 2012. Sério?
Será que parte da culpa é do consumidor, que dá espaço para as empresas seguirem neste caminho, sem se preocupar com o impacto ambiental? Selinho de Sustentável todas tem… mas e postura? Cedo ou tarde as industrias serão obrigadas a repensar esse modelo de negócios. E talvez isso comece quando nós repensarmos nosso modelo de consumo.
Quem já fala sobre isso há muito tempo é o Fred Gelli, que não faz apenas um trabalho incrível há décadas, mas também é um visionário, que apresenta idéias originais, funcionais e que respeitam o planeta. Assista este vídeo e reflita sobre tudo isso. Depois me conte. :)