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Cannes Lions 2019: a única maneira de sobreviver
O que o Cannes Lions revelou sobre o momento atual da publicidade no mundo
O Festival de Cannes tornou-se a materialização de muitas críticas feitas à nossa indústria. Nos anos recentes foi apontado como um festival caça-níquel, sinônimo de ostentação ou playground de trabalhos sem relevância. Pode até ter algum fundamento, mas reduzir o evento a estes pontos é assumir uma visão míope de sua importância. Portanto, eu vou pular essa parte de ficar reclamando das mesmas coisas e tentar explorar alguns outros pontos.
Mudança em curso
Cannes está diferente. Menor e menos barulhento. Mais diverso. Há um número menor de grupos de estrangeiros andando pelos arredores do Palais. Mas sim, a praia ainda é tomada por empresas com eventos numa quantidade que ninguém é capaz de acompanhar. Sim, entre os trabalhos reconhecidos nas paredes do Palais ainda se vê coisas que não deveriam estar lá. E sim, o trabalho de curadoria do conteúdo é fundamental para você não ter a frustrante sensação de tempo perdido. É fato que o festival está mudando. Não tão rápido quanto alguns gostariam, mas na direção certa.
Os clientes estão próximos e famintos por aprendizado
As estatísticas mostram que os clientes estão vindo em maior número, então claramente a criatividade tem grande valor para eles. A participação deles em busca de aprendizado, tem se tornado mais estruturada nos últimos anos. Vale a pena conversar com aqueles que participaram de programas como o CMO Accelerator pois, acreditem: o festival é mais do que uma contagem insana de leões e happy hours non-stop.
Criatividade em expansão
Faz tempo que a antiga propaganda percebeu que nosso negócio é sobre algo maior do que simplesmente fazer campanhas. E como a criatividade pode ter mais espaço, escala e relevância foi bastante discutido em Cannes. Para Nick Law, as agências precisam construir novas capacidades. Para David Droga, sua motivação para juntar-se à Accenture Interactive foi poder trabalhar numa “tela maior”. Já a McCann uniu-se à Wired para mostrar como a inteligência artificial e humana caminham lado a lado num mundo que se reinventa a cada dia. Tudo em busca de mais espaço para a criatividade.
Em 2015, o World Economic Forum fez uma pesquisa para descobrir as 10 habilidades mais valorizadas no mercado de trabalho. “Criatividade” estava em 10º lugar. A estimativa é que em 2020 estará em terceiro. Rob Reilly, Global Creative Chairman do McCann Worldgroup, eleito este ano como Rede do Ano no Festival, tem um mantra que guia o trabalho de todo o grupo: “A criatividade é a única maneira de sobreviver”.
De fato, a criatividade não é mais o coração do negócio, ela é o próprio sangue dele. Ela precisa percorrer toda e qualquer empresa e estar em cada parte deste organismo para que ele continue vivo e saudável.
Não haverá o vencedor que tanto se espera
As consultorias estão mais visíveis no festival, seja patrocinando parte dele, seja inscrevendo trabalhos. E as in-houses também estão entrando mais no jogo. Mas a grande discussão sobre qual formato de negócio vai prevalecer está ultrapassada. É como achar que temos que eleger um vencedor entre o Uber, o táxi, o carro particular, o metrô e o patinete. Em geral, o cliente vai experimentar vários e escolher o que melhor se adapta as suas necessidades. E a escolha pode variar a cada viagem. Haverá viagens em que ele vai combinar mais de um serviço. Acredito que será o mesmo com nossa indústria. Quando houver maior maturidade sobre as vantagens e desvantagens de cada formato de trabalho, os clientes saberão melhor como utilizá-los.
Por fim, neste momento de expansão da criatividade, onde os clientes buscam mais conhecimento e têm mais escolhas disponíveis, vale a pena fazer uma autocrítica. Ter uma visão clara sobre qual serviço sua empresa, agência, consultoria, startup (ou qualquer que seja o nome) quer oferecer vai ser fundamental. Tendo um ponto de vista sobre o que você mesmo faz é o primeiro passo para começar a ajudar seus clientes.