Netflix quase comprou cinemas para ajudar em campanhas para o Oscar
Gigante do streaming chegou a negociar aquisição de rede de cinemas, mas abandonou a ideia por conta do tamanho do investimento
A Netflix é hoje um dos estúdios mais poderosos em Hollywood e tem dinheiro de sobra para provar isto, mas ainda enfrenta dificuldades latentes para se consolidar entre os grandes da indústria cinematográfica nos principais e mais prestigiados circuitos. Enquanto o serviço de streaming encara muita resistência no festival de Cannes, na disputa pelo Oscar ele aos poucos vai adentrando no cenário, conquistando vitórias nas categorias “menores” da premiação – a exemplo de “Icarus” em Melhor Documentário este ano – e escalando em direção às principais nomeações. Algumas destas indicações inclusive ajudaram a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas a quebrar tabus históricos, a exemplo de Rachel Morrison.
Mas o canal ainda não chegou de fato a conquistar espaço entre os nomes maiores da temporada de premiações, um preconceito em parte gerado pelo fato de todas as suas produções originais estrearem direto no catálogo digital oferecido pela empresa ao invés de se submeter ao circuito tradicional das salas de cinema. O estúdio obviamente está querendo resolver a situação, e entre as medidas pensadas pela Netflix existiu por um momento a ideia de adquirir alguns cinemas para “estrear” seus filmes comercialmente e tentar superar esta barreira imposta pelos votantes.
É o que diz uma reportagem do Los Angeles Times, que revela que a empresa explorou a oportunidade de comprar estabelecimentos comerciais do ramo em Los Angeles e Nova Iorque para exibir sua rede cada vez maior de filmes e documentários. Os cinemas envolvidos nas negociações eram de propriedade do Landmark Theatres, rede de salas de exibição fundada em 1974 que hoje está presente em 56 localidades diferentes no território americano.
Segundo o jornal, o acordo foi pelo ralo depois que os executivos do serviço de streaming decidiram que os preços colocados na mesa pela Landmark eram muito altos dado o cenário do mercado, mas no fundo este princípio de projeto de verticalização dos negócios faz muito sentido à Netflix. Embora o CCO Ted Sarandos lute desde sempre pelo lançamento simultâneo das produções do estúdio nos cinemas e no streaming, a posse de algumas salas de exibição próprias faria a empresa superar a fase de negociações com os exibidores – que no passado se posicionaram como verdadeiros obstáculos no lançamento de suas produções – e manter uma presença tanto no circuito tradicional quanto no canal.
Além disso, há a óbvia questão da credibilidade perante o público mais conservador da indústria, que vê hoje o serviço como um grande mal à produção cinematográfica. Ter em mãos alguns cinemas em localizações chave não só ajudaria o canal a melhorar estas relações como também proporcionaria uma plataforma mais estável para a divulgação de suas produções na temporada de prêmios, já que os filmes impulsionados pelo estúdio seriam encarados de fato como “obras cinematográficas” ao invés do status de “produtos televisivos” que tem no streaming hoje.