Você se sente pressionado quando começa um trabalho criativo? Quentin Tarantino também
Diretor esteve em São Paulo para promover “Os 8 Odiados”, seu oitavo filme
Solícito, bem humorado e verborrágico, Quentin Tarantino esteve em São Paulo para promover “Os 8 Odiados”, seu oitavo e, segundo ele próprio, seu antepenúltimo filme na carreira.
O western de três horas de duração filmado em 70mm foi exibido para a imprensa antes da coletiva, mas nada pode ser comentado sobre o longa antes de 21 de dezembro.
Filmado com UltraPanavision, “Os 8 Odiados” não terá cópias em 70mm no Brasil
O Brasil é o primeiro país da tour de divulgação de “Os 8 Odiados”, e segunda vez que Tarantino passa por aqui. A primeira foi em 1992, época de lançamento de “Cães de Aluguel”, quando prometeu aprender português, mas, mais de 20 anos depois, não aprendeu “bosta nenhuma”.
Durante o período de produção, o diretor fez questão de explicar sua paixão por lentes de quase meio século de idade, que o fizeram filmar em UltraPanavision. Apenas 10 filmes na história foram filmados assim, em ultra widescreen, sendo que o último – “Khartoum” – foi em 1966.
No Brasil, porém, “Os 8 Odiados” não terá nenhuma sala de cinema equipada para exibir a versão 70mm. A Weinstein Company tinha prometido pelo menos 50 salas adaptadas ao redor do mundo.
Segundo, Marcos Oliveira, diretor da Diamond Films – que distribui o filme no país – não foi possível importar o projetor adequado devido aos altos custos e prazo, o que poderia prejudicar o lançamento no Brasil. Dessa forma, “Os 8 Odiados” será exibido apenas em scope digital, mas preservando a razão de aspecto 2.76:1.
A trilha original de Ennio Morricone
Ao lado do ator Tim Roth, Tarantino começou a coletiva respondendo sobre sua parceria com Ennio Morricone. Em seus seis últimos filmes, o diretor utilizou composições antigas de Morricone, mas em “Os 8 Odiados” a relação é bem mais estreita.
Morricone compôs uma trilha sonora original especialmente para o filme. Segundo Taratino, o compositor criou a partir do roteiro, sem ver uma única cena, com a ideia de transmitir movimento e expectativa para violência.
Racismo no velho-oeste
Em seus sete filmes anteriores, Quentin Tarantino passeou por diversos gêneros do cinema. Com “Os 8 Odiados”, porém, repete o western de “Django Livre”.
Filmar westerns é a maneira de Tarantino lidar com a América racista, que os filmes de velho oeste do passado ignoravam
Sobre essa repetição, o diretor contou que é um genêro que ama, e que quer fazer pelo menos mais um. “Preciso fazer três westerns para me considerar um cineasta de western. Antigamente era preciso filmar uns sete ou oito, mas três está de bom tamanho nos dias de hoje”, afirmou.
Tarantino acredita que tem algo para contribuir com o gênero, e que o aprendizado com “Django Livre” o tornou melhor para repetir a dose.
Além disso, é a sua maneira de lidar com os Estados Unidos racista, que os filmes de velho oeste do passado ignoravam. “Django Livre” se passa antes da Guerra Civil americana, enquanto “Os 8 Odiados” acontece logo após.
Perguntado na coletiva sobre seu ciclo de vinganças – que já mostrou um negro se vingando de escravocratas, uma mulher se vingando de homens, e uma judia se vingando de nazistas – Tarantino respondeu se pretendia fazer um gay se vingar de homofóbicos:
Eu não tinha planos nesse sentido, mas agora que você colocou a ideia na minha cabeça, quem sabe.”
“Faço filmes dos EUA para o mundo”
Tarantino lembrou que passou a maior parte dos seus 20 e poucos anos falido. A Miramax ainda não fazia ideia da popularidade que o diretor tinha alcançado no mundo depois de “Cães de Aluguel”.
Vender “Pulp Fiction” nos EUA não foi tão fácil como muitos imaginam, mas quando oferecido para distribuidoras na América Latina e Europa, todas diziam: “Novo filme do Tarantino? Queremos já!”.
O diretor revela que apesar de seus filmes lidarem, muitas vezes, com temas americanos, eles fazem mais sucesso no mercado global do que nos EUA. Justificando assim o início da tour de divulgação de “Os 8 Odiados” pelo Brasil.
Pressão para ser cada vez melhor
Você se sente pressionado quando vai começar um trabalho criativo? Se serve de consolo, Tarantino também.
O diretor revelou que convive com uma pressão constante para fazer um novo filme melhor do que o anterior. As comparações são inevitáveis, e não quer nunca ter que ouvir que não é mais o mesmo cara de antigamente.
A maneira como lida com isso é mantendo-se fiel ao seu estilo, sem aceitar trabalhos que não sejam autorais. Um privilégio que nem todo mundo tem, é claro.
“Não tenho esposa, não tenho filhos. Não faço filmes para pagar minha hipoteca, comprar uma segunda casa ou manter a água da piscina aquecida. Fazer filmes é o meu empreendimento artístico”.
Tarantino considerou os “Os 8 Odiados” seu filme mais bonito até hoje, visualmente falando, principalmente por ter sido a primeira vez que decidiu filmar clima. Neve, no caso, muita neve.
A briga com Spike Lee
Durante a coletiva, Tarantino se exaltou quando questionado se trabalharia com Spike Lee. Os dois já discutiram publicamente, já que Lee critica a maneira como Tarantino explora a cultura negra em seus filmes.
Nunca. Eu só tenho mais dois filmes sobrando, não vou gastar com o ‘fucking’ Spike Lee.”
No final, o assunto voltou á tona, e a resposta também foi provocativa:
O dia que eu filmar com o Spike Lee vai ser o dia mais feliz da vida dele”.
“Os 8 Odiados” estreia no Brasil no dia 7 de janeiro de 2016. Assista ao trailer abaixo: