Estudo da USP revela que maioria das notícias falsas no WhatsApp circula em grupos de família
Pesquisa teve como base os boatos envolvendo o assassinato de Marielle Franco
O departamento Monitor do Debate Político no Meio Digital, do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP (Universidade de São Paulo), realizou uma pesquisa inédita para verificar quais os principais vetores de notícias falsas que se espalham pelo WhatsApp.
A pesquisa coordenada pelo professor Pablo Ortellado e pelo pesquisador Márcio Ribeiro foi feita com 2.520 pessoas através de um questionário online, e usa a mesma metodologia de um estudo israelense que procurou a origem de boatos via WhatsApp após o sequestro de três jovens na Cisjordânia, em 2014.
Segundo o estudo, as notícias falsas mais disseminadas no Brasil são amplamente compartilhadas em grupos de família.
Uma das fake news analisadas na pesquisa afirmava que Marielle Franco, vereadora carioca assassinada no Rio de Janeiro em março, era ex-mulher do traficante Marcinho VP, do qual havia engravidado aos 16 anos.
Das 2500 pessoas entrevistas, 1.145 alegaram ter recebido por WhatsApp variações de textos ou imagens trazendo essas informações falsas.
Das 916 pessoas que receberam o boato em formato de texto, 51% alegou ter recebido o conteúdo em grupos de família no WhatsApp, 32% em grupos de amigos, 9% em grupos do trabalho e 9% em grupos distintos ou em mensagens privadas diretamente de uma pessoa.
Já entre as 229 pessoas que receberam a variação do boato em formato de foto, 41% também alegou ter sido através de grupos de família.
Apesar de identificar os padrões de distribuição das fake news, a pesquisa não fala sobre a origem das mesmas.
Segundo o professor Ortellado:
Pode ser apenas que existam mais grupos de família do que grupos de amigos ou de colegas de trabalho e os boatos tenham circulado igualmente em todos eles, mas, como há mais grupos de famílias, nosso estudo tenha apenas captado essa distribuição dos grupos”
A pesquisa também mostra que a maioria desses boatos circulam muito rápido e, no caso das mentiras sobre Marielle Franco, pouquíssimo tempo depois da divulgação de seu assassinato. Entre outros boatos em relação ao caso de Marielle amplamente disseminados em grupos de família no WhatsApp estão um vídeo e áudios sobre supostos assaltantes ligados ao Comando Vermelho e que teriam assumido a responsabilidade pela morte da vereadora.