Alexandre, o cara
Muito barulho por nada. Isso resume a implicância da crítica especializada ao falar que “Alexandre”, de Oliver Stone, não passa de uma “superprodução gay”.
O que Stone fez foi relatar a realidade, mostrar com naturalidade como os gregos tratavam com a sexualidade. Existe apenas um único beijo homossexual no filme e algumas declarações de amor, e não aquela orgia que os americanos disseram ser chocante no filme.
Mas isso é só um detalhe. Abri esse texto falando disso, pois é o que mais está gerando comentários desde que o filme estreiou nos EUA. O que importa mesmo, é que “Alexandre”, ao contrário do que dizem, é um filme grandioso.
Tem seus defeitos, lógico, e nem é melhor épico que já assisti e menos ainda o melhor filme de Oliver Stone. Mas mesmo assim, é uma visão magnífica e verdadeira de Stone perante o mito que foi Alexandre, o Grande.
Implicaram até com o sotaque da Angelina Jolie, que interpreta a diabólica Olímpia, mãe de Alexandre. Isso é o de menos minha gente. Vamos observar o modo magistral como Stone cria cada cena. Mesmo sendo um Stone mais entregue as “fórmulas de se fazer um épico de Hollywood”, ainda é um autêntico e audaz Stone. Sim, sim, como você pode perceber, sou fã do Tio Oliver.
Erros e omissões históricas? Sim, “Alexandre” tem de monte. Mas prefiro acreditar que essas licenças foram utilizadas para uma narrativa mais consistente. Acho também que Stone preferiu mostrar muito mais o lado humano do mito, mostrar seus conflitos internos do que se ater apenas a grandiosas batalhas.
Isso poderia ser feito sim, mas talvez Stone deve-se dosar mais a mão entre o psicológico e o militar. Quem não conhece a história de Alexandre, certamente vai sair confuso do cinema, se perguntando: “Porque esse cara era tão fodão do jeito que dizem por aí?” E isso acontece, pois no filme Alexandre parece um cara perdido, chorão e mimado, que nem sequer sabe comandar seus soldados nos momentos de crise.
Outro ponto em que o filme falha é tentar mostrar Alexandre apenas como um grande pluralista, o cara bonzinho que queria que todos os povos vivessem unidos, bebessem e fizessem a festa numa orgia do crioulo doido. Sim, ele também queria isso, mas seus objetivos de conquista do mundo iam muito além de apenas generosidade e uma humanidade em paz.
Aristóteles, figura essencial na criação de Alexandre, aparece um uma única cena e apenas como um mestre sem tanta importância. O filme também peca em perder muito tempo mostrando o interesse de Alexandre nas Índias e em algumas regiões com menos importância história nos feitos dele, do que em ser mais objetivo e nos dizer diretamente porque ele é o cara.
De qualquer modo, é uma história que tem e sempre vai ter inúmeras interpretações. A de Oliver Stone é apenas uma delas, o modo como ele achou que Alexandre deveria ser retratado e o fez assim. Quem achar de outra forma, que faça sua versão também.
Essas são as críticas. Mas não se engane. Alexandre é um ótimo filme. Visualmente é belíssimo, um colírio. A recriação de Babilônia é fantástica. E o que dizer das batalhas? São grandiosas, viscerais, tensas, emocionantes. Através delas, nas tomadas áereas, podemos sentir um pouco do quão estrategista Alexandre era.
Está tudo lá, a lendária Falange reconstituída minimamente com suas lanças de até 6 metros de altura. O discurso de Alexandre (sim, já vimos isso várias vezes em outros filmes) é comovente e cria sobre a platéia a imagem necessária do grande líder.
A segunda (e última) cena de batalha do filme ainda nos reserva melhores momentos. A cavalaria enfrentando os gigantes elefantes indianos é do caralho. Mesmo com suas tropas debilitadas, em desvantagem, Alexandre ainda acredita e convoca a coragem para enfrentar os inimigos. O filtro vermelho que Stone utiliza após a queda de Alexandre, mostra que o diretor não deixou de lado suas excentricidades visuais.
“Alexandre” é um filme que se quisermos procurar defeitos, certamente encontraremos um monte e ficaremos debatendo infinitamente sobre eles. Mas o que a crítica especializada cometeu foi um crime, uma injustiça tremenda contra o filme.
Ao falar do filme, nunca poderemos deixar de citar também a grandiosidade e a emoção do ponto de vista de Stone sobre a vida de Alexandre. Seu colírio visual, sua recriação fantástica de locações e toda a carga emocional do enredo. É um filme com seus erros, sim, mas também com cenas e momentos inesquecíveis.