Os 10 Escolhidos de Paulo Coelho

Os 10 Escolhidos de Paulo Coelho

Escritor reascende o interesse pela discussão literária, se alia aos fantásticos e promete “10 Escolhidos” para Frankfurt em 2014

por Fábio M. Barreto
Paulo Coelho

2013 é o ano do Brasil na feira literária de Frankfurt, que já está em andamento na Alemanha, e muito tem se falado sobre o evento por conta do escritor Paulo Coelho. Ele recusou o convite por discordar da lista dos 70 brasileiros selecionados pelo governo para representar o país. As mídias tradicionais e a online já falaram a esmo sobre o assunto desde sexta-feira passada, porém, na tarde de hoje, foi a vez da maior potência da internet brasileira entrar na parada e, em vez de editorializar a questão, permitiu aos leitores que tirassem suas próprias conclusões: o JovemNerd (ancorado pelos criadores Alexandre Ottoni e Deive Pazos) realizou um hangout com Paulo Coelho, André Vianco e Raphael Draccon. O papo foi claro, direto, descontraído e contou até com uma profecia para 2014. Se Paulo Coelho atingir o objetivo com o qual se comprometeu, ele pode trocar a alcunha de Mago para a de Herói da Fantasia e Ficção do Brasil!

“Avisei ao governo que não participaria ainda em março”, comenta Paulo Coelho, embora a mídia só tenha prestado atenção quando ele falou ao jornal Die Welt. O critério da comissão brasileira foi escolher autores premiados. Coelho contrapôs com força: “Autor premiado é aquele que tem público (…) não aquele Zezinho que escreve para 5 amigos”. Logo, ele não integrou a comitiva, tampouco aceitou o convite direto feito pela direção da Feira de Frankfurt. A decisão foi por princípios, diz o autor, logo, participar do evento seria contraprodutivo. A Ministra Marta Suplicy tentou dissuadi-lo da ideia, oferecendo um auditório com cerca de 2000 lugares para recebe-lo (alguns boatos de bastidores indicavam o descontentamento de Paulo Coelho com a recepção que ele teria), mas ele não conseguiu fazer contato e aproveitou o bate-papo para pedir desculpas.

Coelho acredita, e muito, na qualidade dessa nova geração

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A maior surpresa da entrevista pública foi uma promessa, ou melhor, um comprometimento que pode transformar gêneros, elevar carreiras e ampliar a presença da literatura brasileira no exterior. “Essa literatura que fazemos não se renova. Vocês (novos autores) estão fazendo isso sem depender do governo e batalhando bastante. Citei alguns nomes de gente que leio! Eu leio vocês! Não chutei só pelos números!”, comentou, defendendo as menções de André Vianco, Carolina Munhoz, Raphael Draccon e Leonel Caldela em sua justificativa. E aí soltou a bomba: “Ano que vem, me comprometo a levar 10 autores para Frankfurt. Não vai ser a lista do Brasil, vai ser a minha lista! E digo isso como futuro chefe de panelinha!”, declarou e descontraiu Paulo Coelho. Ele pretende estipular uma cota mínima de livros vendidos e selecionar os 10 mais relevantes. O conceito não é dele, a ideia foi dada por Eduardo Sphor (único dos citados que está na feira, por conta própria) e já foi tentada nesse ano, sem sucesso. “Eles desconversaram e perdemos a chance”.

Paulo Coelho

“Ano que vei vai ser o Ano dos Nerds em Frankfurt!”

Se esse plano for bem-sucedido e Paulo Coelho desembarcar em Frankfurt no ano que vem com 10 autores de sua escolha, muitos deles famosos na fantasia, ele vai quebrar barreiras e alavancar essas 10 carreiras de forma irreversível. Claro que, desde já, desavenças serão criadas, afinal, todos vão querer estar lá e, sem dúvida, alguns nomes já estão garantidos. Logo, a briga será por 4 ou 5 lugares. Entretanto, só brigará quem for mesquinho e falhar em olhar o benefício que isso trará ao mercado. Imagine a situação: a Harper Collins contrata André Vianco.

A iniciativa dos “10 do Mago” pode ser benéfica em vários aspectos, basta vontade pessoal, comercial e política

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Mas o autor que não foi escolhido, continua com uma editora pequena no Brasil. Ele pode reclamar, claro. Mas também pode entender que a presença de Vianco (nesse cenário) vai fazer com que outras editoras americanas tenham interesse nesse tema e nos nossos autores, logo, o caminho para o reclamão pode estar sendo aberto enquanto ele permanece cego em relação ao que realmente importa. Somos (e aqui me incluo) a primeira geração de um novo gênero, de um novo estilo, de gente que escreve pensando no leitor. Temos que apoiar um mercado mais forte, não apenas o interesse pessoal.

Todo mudo quer fazer sucesso, claro! Entretanto, os grandes nomes são o canal para o sucesso geral. As editoras pequenas no exterior também precisam de títulos e vão querer se manter competitivas. É só questão de analisar o mercado e acompanhar seu movimento, não ser um detrator por conta do ego ferido. Como o próprio Paulo Coelho diz, “é preciso ralar; já sofri preconceito, demorei para atrair atenção, mas deu certo; assim como vejo muita gente fazendo um trabalho ótimo no Brasil”.

Respondendo a uma pergunta minha, ele comentou sobre o início de sua carreira internacional. “Cheguei a Frankfurt e a tantos outros mercados por causa de leitores. Um leitor resolveu traduzir um livro para o alemão e lá estava eu. Outro fez em inglês, o que facilita muito a vida, e abrir mais um mercado. Leitores entusiasmados chegavam a bater na porta das editoras dizendo que eu já tinha vendido tantos mil livros e os caras respondiam ‘mas isso são números brasileiros’”, lembra Paulo Coelho. Esse tipo de história acontece mesmo, pois certa vez, quando tentava negociar os direitos internacionais de um colega escritor (que permanecerá em sigilo, claro), ouvi da Tor Books que “vender no Brasil não significa que vai vender aqui”. É uma dura realidade e ela precisa ser mudada. Esse plano acabou de se tornar a peça principal de qualquer estratégia. Marta Suplicy deveria abraçar a ideia, isso sim!

Coelho acredita, e muito, na qualidade dessa nova geração. “Os autores de fantasia não estão nessas listas, ou não são vistos pela crítica, por que eles simplesmente não sabem que eles existem!”, afirma o autor de “O Diário de um Mago”.

“O Brasil está na vanguarda literária e temos qualidade internacional. Já ouvi gente dizendo que quando isso acontece ‘não se trata de uma literatura brasileira’, imagina só? Vi Jorge Amado ser criticado por ser regionalista demais e eu por ser internacional demais”.

Ele promete, e garante o apoio que “só quem é bem-sucedido não tem medo e pode ajudar quem precisa” para realizar esse plano. O homem está decidido a cumprir a missão e ser o “Mago dos Nerds”, como brincou.

Demorei a entrar nesse assunto, pois, como autor de “Filhos do Fim do Mundo”, preciso tomar certos cuidados. Desde o princípio fui solidário e agradecido à postura de Paulo Coelho. Alguém precisa chamar a atenção pública e crítica a essa nova geração de autores fantásticos e só alguém com a relevância dele pode fazer isso. Não há outro jeito, já que resultado de vendas parece não ter servido muito para atrair a atenção das comissões governamentais. Coelho fala que depender do governo não é lá essas coisas, mas, a chancela cultural do Ministério ajudaria, e muito, a consolidação do tema.

Afinal, até quando o currículo escolar vai viver exclusivamente da fantasia de Monteiro Lobato? Ele deve permanecer, mas passou da hora de ganhar companhia! A iniciativa dos “10 do Mago” pode ser benéfica em vários aspectos, basta vontade pessoal, comercial e política. Utópico? Bem, se alguém me dissesse, há 2 horas, que em 2014 teríamos uma comitiva de escritores nerds indo para Frankfurt, eu teria rido e duvidado imediatamente. Agora, ouvindo do cara que, comercialmente, todos devem respeitar e ouvir, tudo muda e há esperança. Outro dia, alguém disse que querer escrever sobre Ficção Científica, apenas lendo FC, é como ir a uma guerra levando apenas balas. E a comida? Paulo Coelho encontrou esse balanço.

Se o plano der certo. Ele cala a boca de muita gente e vai mudar nossos mundos… e todos aqueles que inventamos ou para onde gostamos de viajar! Como diria Fox Mulder, “Eu quero Acreditar!” \o/

Assista ao hangout aqui:

———
Fábio M. Barreto é jornalista, cineasta e autor da ficção brasileira “Filhos do Fim do Mundo“, publicada em 2013 pela editora Fantasy/Casa da Palavra, integrante do Grupo LeYa. Mora em Los Angeles e está escrevendo seu segundo romance, “Snowglobe”.

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