Amazon Prime Video faz painéis calibrados de “The Expanse”, “The Wilds” e “Invincible” na CCXP Worlds
Estúdio mirou públicos diferentes, mas aproveitou formato virtual do evento a seu favor
Uma vantagem do virtual que talvez tenha passado batido para muitos nas expectativas e preparativos dos painéis da CCXP Worlds deste ano é a capacidade de brevidade que um evento do tipo pode providenciar às suas apresentações. Enquanto há muitos isso pode ser considerado um problema, para a Amazon o horário mais apertado serviu como um corretivo involuntário importante – especialmente porque o Prime Video retorna ao evento depois de um 2019 marcado por muita gordura.
Não que em 2020 o serviço de streaming tenha sido rápido nos trabalhos da Thunder Arena no fechamento deste sábado (5) – a marca ainda ocupou cerca de uma hora e meia da programação e terminou tarde por conta de atrasos da organização – mas o formato de entrevista por videochamada ajudou as três apresentações do estúdio a direcionar a conversa e o conteúdo pro que importa, além de favorecer a segmentação dos diferentes públicos almejados. Se no ano passado a edição presencial inexplicavelmente serviu de obstáculo, desta vez quem quisesse assistir apenas ao painel de “The Expanse”, “The Wilds” ou de “Invincible” tinha o conforto da efemeridade digital ao seu lado, e o esquema “para todo lado” da Amazon enfim pode funcionar a seu favor.
Ajuda muito também que as apresentações foram bem mais coerentes, como deixou bem claro a apresentação de “The Expanse”. De volta à CCXP para divulgar o novo ano que estreia em 16 de dezembro, a série desta vez foi menos sobre buscar ativamente o público do evento (um erro crasso do painel de 2019) que incorporar a temática da produção aos interesses de quem estivesse assistindo. Entre uma brincadeira e outra no palco virtual, os convidados do elenco Dominique Tipper, Cara Gee e Wes Chatham conversaram muito sobre pontos relacionados à ficção-cientifícia e os temas suscitados pelo programa, além de contemplar a transição do SyFy pra Amazon com uma maior abertura pro “como” isso ajuda as ambições do projeto.
A principal vantagem é a escala. “Nós agora temos um programa diverso e representativo” comentou Tipper, se referindo a como o alcance global oferecido pelo streaming ajuda o seriado a atingir um público mais abrangente. Gee pouco depois corroborou acrescentando que a produção hoje deve ser a mais diversa em termos de casting, recordando que em um outro evento o painel da série com atores e atrizes de até sete etnias diferentes. Para ela isso é muito importante: de ascendência indígena, ela vê com muita positividade que a vindoura quinta temporada vá se aprofundar ainda mais nas questões destes povos e dos próprios perigos passados no meio-ambiente.
É inclusive no reflexo com o presente que os três concordam que “The Expanse” ganhe tanta força. “O grande diferencial da história se passar 150 anos no futuro é que ela sempre reforça subjetivamente que os problemas enfrentados na série são problemas que a humanidade desde sempre tem que solucionar” chegou a comentar Chatham em determinado momento do painel.
A magia da boa mesa
Se “The Expanse” mirou o nicho do sci-fi, o de “The Wilds: Vidas Selvagens” e “Invincible” mantiveram o foco para públicos mais amplos – não à toa, elas eram as duas séries inéditas da apresentação. Mas ainda que o clima introdutório tenha perseverado, nenhum dos dois painéis sofreu com excessos ou falta de conversa graças sobretudo ao entrosamento dos convidados, que canalizaram o roteiro de perguntas para discussões que não escaparam dos temas propostos.
Isso foi importante para “The Wilds”, um programa que do começo ao fim transpareceu um interesse raro nos painéis da CCXP: o público feminino. Com uma mesa formada apenas por mulheres – incluindo a criadora Sara Streicher, a produtora executiva Amy Harris e as atrizes Rachel Griffiths, Sarah Pidgeon e Reign Edwards – a apresentação do seriado não hesitou em tratar de tópicos como a adolescência de uma perspectiva de gênero, o que parecia um norte óbvio se considerar que a gênese do programa está atrelada a isso.
“A série nasceu de um término de namoro” relembra Streicher, que comenta como o turbilhão de emoções da época a fez lembrar de quando era jovem e todo o misto de sentimentos que passava diariamente. Como a produtora queria “celebrar a emoção deste tipo de sensação” na TV, o resultado foi um programa que segundo ela mistura dois cenários extremos: uma ilha perdida e o colegial. As referências de sempre não faltaram, de “Lost” a “O Náufrago”.
Já “Invincible” teve uma tarefa mais simples. Recheado de estrelas – incluindo Steve Yeun, J.K. Simmons, Zazie Beetz, Gillian Jacobs, Zachary Quinto e o quadrinista Robert Kirkman – o painel sobre a série de animação inspirada nos gibis de mesmo nome precisou apenas localizar a produção no gênero amplamente popular dos super-heróis sem se deixar soar mais um na pilha. A parte mais engraçado é que o material original começou a ser lançado em 2003, um pouco antes deste tipo de história bombar de verdade nos cinemas e na televisão.
Kirkman era quem mais se divertia com esta constatação na transmissão. “As pessoas sabem mais de super-heróis agora, e ‘Invincible’ de certa forma desconstrói o gênero” explicou no evento, pouco depois de lembrar como os quadrinhos foram criados por ele e Cory Walker como uma espécie de epítome, com “tudo de super-heróis em um livro só”.
A premissa é bem isso, tendo como protagonista o filho de uma espécie de Superman (o Omni-Man) que descobre ser o super mais poderoso de todos. Dono da voz do pai, Simmons acredita que este é um dos principais atrativos da nova animação: “Toda relação de pai e filho passa por esse momento esquisito da adolescência, quando o jovem transborda de poder e o pai encara o crepúsculo da vida” disse no evento, comentando ainda que o gênero de super-heróis apenas ajuda a amplificar essas questões.
Todo mundo concorda, porém, que o formato de animação é ideal ao material. Enquanto o elenco brinca das peculiaridades de se gravar todas as falas num estúdio (“Depois de trabalhar em ‘The Walking Dead’ só trabalho com o Kirkman por voz!” ri Yeun uma hora), o criador da série admite ter gostado da decisão por ter liberdade para explorar do jeito que quisesse os seus pontos de interesse no gênero, incluindo aí as consequências das batalhas épicas exibidas nos cenários – mas suas cenas favoritas ainda envolvem a mãe do protagonista, dublada por Sandra Oh.
Falando em dubladores, o painel terminou com a revelação de que Clancy Brown, Ezra Miller, Jeffrey Donovan, Nicole Bayer, Jon Hamm, Jonathan Groff e Mahershala Ali também estão presentes no programa. “Invincible” pode não ser live-action como “The Boys”, mas definitivamente promete ter o mesmo orçamento da colega de streaming.