- Cultura 25.mar.2020
Melancolia, isolamento e hits pontuais formam emblemático novo disco de The Weeknd, “After Hours”
Quarto disco do artista é o que mais chega perto de um equilíbrio entre o que Abel quer com o que as rádios querem
A benção e a maldição de The Weeknd é sua criatividade musical. Desde que surgiu em 2011 com uma estética tão característica, tem sido difícil para Abel Tesfaye manter sua criação original enquanto “precisa” atender ao apelo popular por hits. Até aqui foram 3 discos que trazem suas particularidades, mas que também oscilam entre trabalhos bem completos e outros nem tanto. Ao que tudo indica, o quarto e novo disco, “After Hours”, é o que chega mais perto de um equilíbrio entre o que Abel quer e o que as rádios querem.
Os hits de “After Hours” são muito mais pontuais que os de trabalhos anteriores, sem se valer de um pop chiclete – como o do sucesso instantâneo “Can’t Fell My Face” – ou de parcerias certeiras como em “Starboy” (feita com o duo Daft Punk). Basta ouvir o single “Blinding Lights”, synthpop oitentista e viciante, que lembra trabalhos de outros artistas como Twin Shadow e ainda assim carrega em si uma deliciosa originalidade.
Apesar de ainda preso em sua rede autodestrutiva, melancólica e carregada de remorsos, The Weeknd na verdade está mais reflexivo, o que também faz desse álbum mais sombrio e doloroso que os anteriores. As letras ainda falam sobre relacionamentos que não dão certo, sexo e sombras interiores, mas revelam principalmente o isolamento no qual o cantor tem vivido, situação que inclusive Abel tem abordado em diferentes entrevistas: “Não estou gostando de sair muito de casa”.
Por uma infeliz coincidência do acaso, o álbum chega num momento em que todos nós também não estamos saindo de casa. E isso pode sim potencializar o recebimento de “After Hours”, que com certeza fica melhor a cada audição. Mas por ser um “novo capítulo psicótico que derrete o cérebro”, como o próprio cantor define o trabalho, talvez ele também maximize a própria melancolia que cada um tem vivido nesses tempos difíceis. Fica o aviso.
Embora “Escape From LA” e “Repeat After Me” sejam faixas até dispensáveis, há várias outras essenciais, como “Save Your Tears”, “Too Late”, “Faith”, “Scared to Live” e, talvez, a melhor de todas e que dá nome ao disco, cheia de camadas sonoras e ecos que desvirtuam a lógica da própria canção, assim como “Alone Again”, que abre o trabalho.
Os vocais frescos e a produção alinhada são suficientes para mostrar que Abel está num caminho melhor do que as opções que poderia ter escolhido. Um caminho de evolução mais centrada naquilo que ele ainda pode criar e reinventar, menos dançante, mais introspectivo, menos social. É realmente o momento pra isso.