Reino do céu

Reino do céu

por Carlos Merigo
Reino do céu

:: Rapidinho:

“Gladiador” é uma bomba, “Falcão Negro em Perigo” tédio total. Cansado de torrar dinheiro em bobeira, Ridley Scott faz o surpreendente “Os Vigaristas”. Passou voando por aqui, quase ninguém viu, mas é um filme excelente. Será que era hora de Scott abandonar as superproduções?

Não. “Cruzada” estava nos planos. E por incrível que pareça, Scott acertou a mão. Nada muito novo ou excepcional é verdade, mas ainda bom.

:: Agora com mais calma:

Todos os elementos de épicos estão lá. Personagens estereotipados. Uns que só sabem fazer cara de mau e o mocinho que berra palavras de ordens para os soldados sujos e sem dentes.

Frases edificantes, membros da nobreza que traem uns aos outros, a conversinha fiada com o inimigo antes da batalha (que de qualquer forma não será evitada), hordas de guerreiros correndo e cavalos com pêlos brilhantes. Tudo lá.

Mas por incrível que pareça, Scott consegue sair, pelo menos um pouco, da mesmice dos épicos. Não há como deixar de comparar a batalha final de “Cruzada” com “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”, mesmo assim tem algo diferente no ar.

Isso graças a fotografia azulada maravilhosa e a estética típica dos filmes de Ridley Scott. Ao contrário do irmão, Tony Scott, que exagerou nas trucagens de câmera de “Chamas da Vingança”, Ridley consegue preencher a tela sem apelar para a “tremilicação”.

Ele utiliza mais uma vez uma variedade de partículas que cruzam a tela, como neve, areia, sangue e etc. Isso dá uma vivacidade incrível em algumas sequências, e nunca é de forma gratuita. Visualmente, é o velho e bom Scott que conhecemos.

Ainda mais se levarmos em conta a monstruosidade que ele consegue conferir aos exércitos e nas cenas que demonstram as táticas de cada lado. E não é nada fácil conseguir, porque depois de “Senhor dos Anéis”, “Alexandre” e “Herói”, o tamanho do inimigo já não surpreende mais o espectador.

Agora, se você quer história, fidelidade aos fatos, desista. Vá procurar um livro sobre o assunto. Porque em “Cruzada”, várias modificações são feitas para auxiliar a narrativa, tornando o filme muito mais ficcional do que se possa imaginar. O melhor é esquecer isso e abraçar a idéia.

Quanto as atuações, apesar de um Orlando Bloom apático, temos participações excelentes de Liam Nesson e Ghassam Massoud, que faz o papel de Saladino. Mas o incrível mesmo é ver como Edward Norton consegue atuar de maneira brilhante mesmo escondido por uma máscara.

Enfim, “Cruzada” vale a pena. Mas não espere encontrar a lição moral anunciada pela campanha publicitária. O problema é que um épico precisa emocionar, precisa fazer o espectador entrar na história e torcer pelo protagonista. Mas isso não acontece.

No clássico “Coração Valente”, por exemplo, quando Willian Wallace grita “freeeeeeeeedom” até os mais insensíveis ficam com os olhos marejados. Em “Cruzada”, na maior parte dos casos, é só indiferença. De qualquer modo, é um bom Scott.

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