Os melhores álbuns nacionais de 2021

Os melhores álbuns nacionais de 2021

Confira a lista do B9 com os álbuns nacionais que foram destaques em 2021

por Soraia Alves
NACIONAIS

Depois de um 2020 marcado pela pandemia de Covid-19, tivemos… mais um ano marcado pela Covid-19. E se no primeiro ano da pandemia muitos artistas optaram por adiar a estreia de novos trabalhos, no segundo ano o jeito foi adaptar-se ao “novo normal” e lançar os álbuns produzidos ainda com a imprecisão sobre a volta de shows e turnês.

O combo 2020/2021 também não deixou de ser um catalisador para muitas das composições que vimos ao longo do ano. Enquanto uma música como “A Língua dos Animais”, de Marisa Monte, nos transporta para um contexto pós-pandemia aproveitando pequenos prazeres da vida que o isolamento social nos tirou, “Eles Odeiam Gente Como Nós”, da Fresno, destaca o discurso de ódio num contexto de política extremista no país. Por outro lado, trabalhos como “Batidão Tropical”, de Pabllo Vittar nos garantiram um escape divertido em meio ao caos, enquanto a genialidade de Caetano Veloso em “Meu Coco” conseguiu juntar crítica e diversão num mesmo material.

É também Caetano quem fez uma bela homenagem à Marília Mendonça na canção “Sem Samba Não Dá”. Por mais que tentemos focar nos destaques da música nacional durante o ano, é impossível não pensar em 2021 como o ano marcado pela perda trágica de uma das maiores cantoras da história do país.

Seguimos, no entanto, nossa tradição anual. Abaixo, você confere a lista do B9 com alguns dos álbuns nacionais que se destacaram em 2021.

10. Fresno – “Vou Ter Que Me Virar”

Com mais de 20 anos de trajetória, em 2021 a Fresno lançou um álbum que resgata a estética emo/hardcore, que é berço da banda, enquanto combina uma vasta influência de estilos musicais ao seu som original, como já vimos no trabalho anterior da banda, “Sua Alegria Foi Cancelada”, de 2019. No entanto, “Vou Ter Que Me Virar” consegue transitar de um jeito mais fluido entre gêneros, do pop punk ao samba, com composições que não poderiam ser mais classicamente emos. A letra de “Casa Assombrada”, por exemplo, é para deixar qualquer fã do gênero com sorriso no rosto. O álbum também traz faixas extremamente viciantes, como o ótimo pop grudento feito em parceria com Lulu Santos, “Já Faz Tanto Tempo”. De certa forma, o maior trunfo de “VTQMV” é mostrar que o emo vive e também se renova.



9. Rico Dalasam – “Dolores Dala Guardião do Alívio”

Rico Dalasam entrou em nossa lista de Melhores Álbuns Nacionais de 2020 com o EP “Dolores Dala Guardião do Alívio”, mesmo que o material contasse com apenas 5 faixas. Em março deste ano, o músico lançou “DDGA” completo, com 11 músicas que mantém a coerência de um trabalho que parte de experiências pessoais para propor reflexões sociais significativas. As composições modernas se valem do cotidiano com letras de situações acessíveis, como em “Última Vez”, o que cria uma identificação do ouvinte com Dalasam, ainda que o trabalho seja totalmente sobre a intimidade do artista. “DDGA” pode até parecer sobre uma afetividade apenas interpessoal, mas não demora para percebemos que o trabalho se estende para as instituições sociais. É um álbum sobre alívio, perspectivas e esperança.



8. Liniker – “Índigo Borboleta Anil”

Em seu primeiro álbum solo (sem a companhia dos Caramelows), Liniker trabalhou em cima de cartas antigas que escreveu ao longo dos anos, mas não enviou. A delicadeza com a qual a cantora transforma peças cotidianas em cenários lúdicos é incrível, e talvez o melhor exemplo disso seja “Clau”, canção em homenagem à cachorra que adotou. Passeando por variações de R&B, soul, jazz, funk, samba-rock e pagode, “Índigo Borboleta Anil” traz identidade, ancestralidade e uma rica produção em parcerias com Milton NascimentoTulipa Ruiz, Tássia ReisMahmundi e outros nomes conhecidos da MPB.



7. Duda Beat – “Te Amo Lá Fora”

Em “Te Amo Lá Fora”, ao mesmo tempo que Duda Beat expande sua influências musicais e conta com uma produção mais rica, a própria cantora soa mais segura em seu segundo trabalho. Da mistura de gêneros como maracatu, eletrônico e o coco de roda na faixa “Tu e Eu”, ao trap e pagodão baiano de “Nem um Pouquinho”, o trabalho passeia por uma miscelânea de referências musicais, entregando hits instantâneos da rainha da sofrência indie em uma produção que valoriza mais os vocais da cantora. Em “Meu Coração”, por exemplo, sua interpretação inicial chega a lembrar um pouco Elis Regina, enquanto a canção se desdobra em uma trilha calcada em instrumentos de cordas. De longe, a música mais bonita que Duda Beat já fez.



6. Pabllo Vittar – “Batidão Tropical”

Se você ouvir “Batidão Tropical” do início ao fim, em algum momento você vai rir. Garanto. E não é porque o trabalho é algum tipo de deboche, pelo contrário, Pabllo Vittar faz homenagem à regionalidade musical do Norte e Nordeste do país enquanto entrega letras muito engenhosas. A sequência inicial de “Ama Sofre Chora”, “Triste com T” e “A Lua” é completamente a cara do Brasil. É diversão com tecnobrega, forró e o puro creme das rádios Brasil à fora. É um pouco Calypso, um pouco Calcinha Preta, um pouco uma reunião de família, o churrasco do vizinho, qualquer festa dos anos 90 e 2000. É escapismo, zero problematização, entretenimento pelo entretenimento. “Batidão Tropical” é para ouvir e ser feliz!



5. Marina Sena – “De Primeira”

Sem dúvida, Marina Sena é o grande nome da música brasileira em 2021. Em sua estreia solo, a cantora entrega um trabalho tão delicioso que, na verdade, parece tocar o sensorial de forma plural. Faixas como “Por Supuesto” e “Me Toca” são exemplos de canções que vão além do agrado auditivo, com uma mistura de ritmos que resultam em sensações que vão do aconchego à vontade de dançar. Marina mescla do funk ao R&B, por vezes soa bastante como Maria Rita, e trabalha a chamada brasilidade de forma autêntica e bem-resolvida. O conceito e a estética aqui passam longe de “mais um álbum da MPB cirandeira”. E isso não poderia ser melhor!



4. Maria Bethânia – “Noturno”

35º disco de Maria Bethânia, “Noturno” é um trabalho denso e que reflete muito do período pandêmico. É um álbum minimalista, da capa à sua forma, quase todo na base de voz e arranjos de cordas. Bethânia faz homenagem à MPB, às tradições nordestinas, ao sertão brasileiro. Há muita melancolia, contemplação e críticas nas composições, com destaque para “2 de Junho”, canção que descreve de forma narrativa a morte de Miguel Otávio Santana da Silva, garoto de 5 anos que caiu do nono andar de um prédio de luxo no qual sua mãe trabalhava como empregada doméstica, no Recife. É muito difícil terminar a música sem estar emocionado. “É dilacerante”, como disse a própria Bethânia em entrevista. Com toda a sua crueza, “Noturno” é um dos trabalhos mais belos que este árduo 2021 poderia ter.



3. Juçara Marçal – “Delta Estácio Blues”

A trajetória de Juçara Marçal vem desde a década de 1990, ainda assim, “Delta Estácio Blues” é só o segundo álbum solo da cantora. E é mais uma obra arrojada e transformadora em sua carreira. Juçara distorce lógicas e padrões, como quando assume a postura hip hop em “Crash”, embora não seja uma artista do rap. Ela abraça colagens sonoras diversas, sintetizadores, percussão, bateria eletrônica, maracatu, samba, muito grave, muita experimentação, religiosidade, cotidiano. Nada soa familiar. Não há zona de conforto aqui. É o resultado de mais de 30 anos de uma carreira musical diversa, e por isso mesmo não ressoa como um lugar de conforto, mas como uma profusão de autoconhecimento e autoconfiança.



2. Caetano Veloso – “Meu Coco”

Em “Meu Coco”, Caetano Veloso celebra o Brasil enquanto homenageia a própria música brasileira. O trabalho que sucede “Abraçaço”, de 2012, interlaça o passado e o presente da música nacional, do samba ao funk, de Nara Leão à Marília Mendonça, enquanto reflete sobre a situação sociopolítica do país. O disco é cheio de destaques, como o mantra “GilGal” que sob uma percussão que evoca o candomblé entoa “Vem de Pixinguinha a Jorge Ben, pousa em Djavans, Wilson Batista, Jorge Veiga, Carlos Lyra e o imenso Milton Nascimento”.

Faixas como “Anjos Tronchos” e “Sem Samba Não Dá” expandem a obra do músico em sonoridade e contexto. O resultado é moderno e bastante acessível. A grande genialidade de “Meu Coco”, porém, é a forma sutil como Caetano Veloso expõe o melhor do Brasil de forma a nos inspirar a lutar para resgatá-lo. Neste sentido, os versos de “Não Vou Deixar” são dos melhores ouvidos neste ano: “Não vou deixar você esculachar com a nossa história. É muito amor, é muita luta, é muito gozo, é muita dor e muita glória… Não vou deixar que se desminta a nossa gana, a nossa fama de bacana, o nosso drama, nossa pinta. Não vou deixar, não vou deixar”.


1. Marisa Monte – “Portas”

“Portas” é o primeiro disco de músicas inéditas de Marisa Monte em 10 anos, e segue a estética mantida pela cantora há 30 anos. Não é inovador, mas é refinado e, ao mesmo tempo, de fácil consumo, trazendo uma espécie de escape da realidade. “Portas” é poesia pura e de qualidade, do início ao fim, embalada por arranjos impecáveis que resgatam da brasilidade dos Novos Baianos à Bossa Nova. O álbum se beneficia do momento no qual foi lançado, e acaba sendo muito mais sobre o futuro que o passado. Cada música parece feita para ser cantada no hoje, mas olhando para frente, para dias melhores que estão por vir (assim esperamos). Nessa toada, faixas como a “A Língua dos Animais”, em parceria com Arnaldo Antunes e Dadi Carvalho, soam quase como um vislumbre de futuro projetado com esperança.

“Portas” é um álbum no qual Marisa Monte segue fazendo o que sempre faz, com classe e qualidade ímpar. Mas o que eleva o trabalho ao patamar de indispensável é proporcionar uma fuga da realidade. Ouvi-lo, de tempos em tempos, foi uma questão de resgate da esperança, renovação das energias, e alívio à saúde mental em meio à dureza de 2021.


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