Virgin, Jack Daniels e formas distintas de encarar Direitos de Marca
Direitos que uma empresa tem sobre sua marca fazem um terreno um tanto quanto delicado para um entendimento geral. E, claro, já falamos bastante a respeito disso por aqui. Dois episódios grotescos já envolveram avisos extra-judiciais ao B9, enviados pela revista Rolling Stone e, mais tarde, pelo Ministério do Esporte.
Mas, águas passadas.
Comento hoje sobre dois casos reportados no mesmo dia na terra do Tio Sam envolvendo a Virgin e a Jack Daniels.
No caso da Virgin, a coisa é pior do que um blog postar a respeito da marca. O episódio envolve uma empresa de roupas hipsters chamada I’m not a virgin, que possui este nome porque usa uma porcentagem de materiais sintéticos reciclados em suas calças jeans, e não apenas algodão novo (ou virgem, em inglês). Daí o nome.
A descolada companhia aérea e operadora de telefonia que já foi loja de discos e que tem até equipe na F1 enviou uma carta comentando sobre a confusão que a pequena confecção poderia causar, sendo associada com a poderosa empresa de Richard Branson. Incluiu ainda sugestões para novos nomes de marca, como “I’m not pure”.
No vídeo abaixo, o CEO da I’m not a Virgin comenta sobre a carta. Meu quote favorito é: “será que as pessoas também vão se confundir no mercado ao comprar azeite extra virgem?”
A reportagem do Co.Create ainda comenta que esta iniciativa da Virgin em blindar a palavra é semelhante à tentativa de Mark Zuckerberg em obter direitos sobre a palavra “face”.
É muita megalomania no mundo…
Enquanto isso, a centenária Jack Daniels, que teria todos os motivos do mundo para ter um departamento jurídico mais quadrado do que os que acionaram o B9, achou uma maneira bem mais amigável de resolver um imbróglio.
Um livro cuja capa remetia ao famoso rótulo do whisky americano era um motivo razoável para uma carta de cessar e desistir. Mas o próprio autor surpreendeu-se com o conteúdo da carta, bastante amigável e inclusive oferecendo ajuda para bancar os custos de uma reformulação de capa.
Em reportagem sobre o caso, o time jurídico da marca afirma que não viu intenções do autor em vender mais livros só por causa da capa e procurou fazer um approach a um “fã desavisado”.
Ainda que possamos discutir mais um pouco a respeito de paródia, homenagem, citação, etc, é um direito da marca associar-se ou não ao que bem entender. Mas não é direito intervir na divulgação espontânea de notícias relacionadas a ela (a imprensa ainda é livre) e, acredito, tampouco ser dona de uma palavra.
Como a linha é tênue e os departamentos de marketing e jurídico das empresas ficam em andares diferentes, ainda veremos muitos casos semelhantes por aí.
Colaborou com o post @franklinbarbosa