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SXSW 2019: O dia em que o Cirque du Soleil dissecou o encantamento
Diana Quinn e Beau Lotto foram fundo no que faz os espetáculos do circo mais famoso do mundo serem tão deslumbrantes (e o que acontece com o espectador quando imerso em tamanho fascínio)
Meu dia aqui terminou hoje vendo uma sessão incrível com a Diana Quinn, CCO do Cirque du Soleil, e o Beau Lotto, neuroscientista do Lab of Misfits.
Foram 60 minutos de puro encantamento – ou “awe”, o termo em inglês que eles usam e que tem um significado um pouquinho mais amplo que a nossa versão em português. Quinn falou sobre o processo criativo do Cirque – que envolve uma sala especial no prédio deles em Montreal, com 10 a 15 pessoas que vão da incerteza e do desconforto à intimidade em velocidade recorde e da tensão que permeia todo o processo – e sobre usar a vulnerabilidade como uma peça chave de conexão entre os times.
Mas foram Lotto e seu experimento de neurociência para o Cirque que roubaram a cena: ele falou bastante sobre como nosso processo de compreensão do mundo – que acontece através do cérebro – é tendencioso e como a gente tenta a todo custo evitar a incerteza e busca fechar os ciclos que começa (o inglês tem o termo “closure”, que poderia ser traduzido como encerramento).
De acordo com Beau, o encantamento quebra esta dinâmica quase padrão do nosso cérebro, e nos faz:
– mais conectados uns aos outros (ou seja, mais sociais);
– menos avessos à incerteza e menos perseguidores do “closure”;
– melhores tomadores de risco;
– e, no final, saímos do encantamento com uma percepção melhorada de nós mesmos.
Segundo ele, o efeito do encantamento no nosso cérebro é similar ao de tomar LSD ou chá de cogumelos: nos tornamos mais contemplativos, ficamos imersos na experiência, nos sentimos pequenos mas ao mesmo tempo conectados a algo maior, mais propensos a agir.
Quinn nos contou que a despeito das descobertas, o processo criativo do Cirque continua o mesmo: eles não criam para gerar encantamento, e sim pra contar boas histórias (são elas que tem este poder). Mostrou como o Cirque tem usado tecnologia e ciência nos shows – drones, vestidos que florescem e um gel que permite por fogo sobre a pele são exemplos de recursos que eles usam sempre buscando aumentar a intensidade das histórias e das experiências. Ela ainda contou que a reação da audiência é uma parte importantíssima do espetáculo- e que ela faz cada dia uma apresentação diferente simplesmente por reagir às performances.
Os dois terminaram nos entregando uma última pérola em forma de princípio: “the best performers are usually the best listeners”. Vou levar mais esta pro caderninho da vida.