Lobos da mídia
Esses dias tivemos aqui no site toda aquela velha discussão de sempre entre jornalistas e publicitários, tudo por conta do texto do Millor e depois da resposta do Cássio Zanatta da AlmapBBDO.
Não tenho intenção de dizer quem está certo ou errado, nem vou ficar aqui defendendo a publicidade. Acho essa discussão toda uma bobagem, desde a época da faculdade. Mas acredito que cabe uma reflexão sobre o episódio ocorrido na quarta-feira com o avião da JetBlue, mesmo sabendo que postando isso já estarei colaborando com a rixa.
Como bem disse o Zanatta em seu texto, o poder de um jornalista é muito maior que o de um publicitário. Comercial nenhum no mundo causaria tanto terror quanto as redes de TV causaram nos passageiros do vôo 292 da Jetblue. Um episódio que me lembrou o filme “O Quarto Poder” do diretor Costa-Gavras, onde uma situação de tensão é transformada em um circo da mídia.
Nenhum jornalista quis dizer para não acabar com o drama, mas como revelou o piloto Scott Burke, pousar um avião nesse estado é relativamente simples. Mesmo descer sem roda nenhuma é algo a que se pode sobreviver.
Zachary Mastoon, um dos passageiros desse vôo que ia de Burbank a Nova York, contou que a tripulação informou a todos que o problema não era tão grave, mas que o cenário de “o-pior-pode-acontecer” exibido pelas TVs era aterrorizante e sádico para quem estava lá dentro.
A JetBlue, que oferece 36 canais de TV via satélite durante seus vôos, diz não ter planos de desligar o sistema durante emergências e que prefere respeitar o direito de escolha de cada um.
Mas acompanhar o terror criado pelos repórteres, que monitoravam o avião sobrevoando Los Angeles para queimar combustível, talvez possa ser considerado masoquismo. O pouso foi perfeito. No ar, o piloto estava tão calmo que se preocupava mais com a mídia do que com cometer um erro fatal.
“Quero que os lobos da mídia fiquem longe de mim”, disse à torre de controle.
Ficam as perguntas. Será que as companhias aéreas deveriam desligar o sistema de TV durante emergências? Será que os jornalistas deveriam criar cenários apocalípticos em situações relativamente simples?
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