Ya! Dog, Guaraná Antarctica e Sandy
Essa é para causar arrepios naqueles que estão preocupados com a ética nesses tempos de marketing invisível, viral e de guerrilha.
No programa Ya! Dog da MTV, na última sexta, a VJ Luisa Micheletti anunciou uma entrevista com um tal Miro Bittencourt, cientista que teria encontrado fragmentos de uma caixa misteriosa e contaria a polêmica de uma empresa que propõe a internacionalização da Amazônia.
Sim, essa história você já conhece. É o ARG de Guaraná Antarctica, Zona Incerta, que está sendo desenvolvido pela Editora Abril.
Toda a entrevista foi dada como se fosse real, e a apresentadora fazia indagações e mostrava matérias (incluindo um longo vídeo de protestos contra Bush, também como parte do ARG) como se história e personagem fossem reais. Nenhuma menção a produto ou marca foi feito.
É óbvio que com alguns poucos cliques pelos sites que compõem o ARG, descobre-se logo tratar-se de uma ação de marketing do refrigerante. Mas para quem questiona os limites da publicidade e considera esse tipo de iniciativa manipulação e enganação do consumidor, como muitas pessoas acusaram a ação “The Uncles” da Nissan, a atitude pode ser preocupante.
Como eu já disse outras vezes, olho essas ações por outro prisma. Acho grave demais chamar isso de “enganar o consumidor”, é uma brincadeira e entra no jogo quem quer. Mas o outro lado da questão, é que muita gente vai ver, acreditar e levar a sério, como já fez o senador Arthur Virgílio.
Agora, problema mesmo é constatar o nível do público do programa da MTV. Com a proposta de falar de “entretenimento digital”, o que se resume a mostrar as “coisinhas legais da internet”, o Ya! Dog trata tudo de forma superficial e nunca leva uma discussão até onde ela mereceria ser levada.
Levantam a bola da privacidade na internet, de compartilhamento de conteúdo, etc. A apresentadora lê meia dúzia de comentários estúpidos no blog do programa e conclui: “É gente, é complicado mesmo. Vamos ver esse joguinho aqui…”
Ah claro, e depois ainda tem depoimento da Sandy, aquela do Júnior, dizendo que a internet com músicas sendo distribuídas por todo canto “prejudica os artistas”.