GUEST9: Como é trabalhar na propaganda do mundo real

GUEST9: Como é trabalhar na propaganda do mundo real

por Diego de Mathia
GUEST9: Como é trabalhar na propaganda do mundo real

O GUEST9 apresenta toda semana um post desenvolvido por um leitor do B9. Um espaço para você falar sobre o que pensa, defender ideias e trazer novos pontos de vista para todos nós. Também quer escrever? Fique atento as chamadas no @brains9.

Diego De Mathia é publicitário, pós-graduado em comunicação empresarial, é redator por gosto e natureza, de vez em quando é redator de arte mas, gosta mesmo é de planejamento. Está escrevendo um livro que nunca termina e tem uma pequena agência no sul do mundo.

 

Sempre que passeio aqui pelo B9 me pergunto onde diabos 95% das agências e profissionais se encaixam nesse universo com cifras enormes, liberdade criativa, VTs maravilhosos e uma equipe inteira de planejamento e criação dedicada a um, dois, ou três clientes? Vejo, constantemente, novos profissionais sendo desestimulados pelo mercado. Universidades brasileiras de publicidade e propaganda, fora do eixo das grandes contas, estão formando profissionais despreparados para o mercado em que esses alunos estão sendo despejados.

Não meu caro amigo, não que eu esteja dizendo que as universidades não devam nivelar por cima, claro que sim. O fato é que no interior ou até mesmo nas capitais existem agências pequenas, trabalhando para clientes com verbas pequenas e tendo que bater escanteio e cabecear ao mesmo tempo.

Se você trabalha em uma agência grande, sabe o que tem que fazer, quando fazer e sabe que as outras pessoas também estão fazendo sua parte. As coisas tendem a ser mais fáceis. Sua obrigação é criar, ou planejar ou tocar a mídia para frente, mas cada “macaco no seu galho”. Claro, nem tudo é perfeito e, algumas vezes você acaba quebrando o galho do outro. Em agência pequena, com estrutura enxuta, o “cara da criação” também é o cara que vai planejar o cliente, vai lá apresentar e ainda dar uma mão na mídia e, se bobear ainda ajudar o “dono” a decidir o valor a ser cobrado. Não, isso não é ruim mas, como eu disse anteriormente, nossas universidades estão preparando alunos para Cannes quando na verdade deveriam estar preparando para tapinha nas costas e olhe lá.

Falo isso de cadeira: me formei há diversos anos por uma universidade aqui de Santa Catarina que me ensinou tudo sobre a Coca-Cola, a Ford, o OMO, o Pão de Açúcar, a Apple, mas jamais me falaram sobre o motel da minha cidade, a rede de supermercados do bairro ou a revenda de carros mais próxima.

Uma mudança é necessária na forma como os cursos estão preparando os alunos de propaganda. É preciso que professores ensinem sobre os grandes cases de mercado mas não percam o foco do lado de cá da cerca: como pensa o mercado da sua região, como é a relação das agências com seus clientes e de que forma esse novo profissional que está saindo do forno pode contribuir. Lembro de um professor que eu tive que sempre me falava: “A propaganda tem que estar adequada ao mercado, ao público…” e eu pergunto agora: “E o profissional de propaganda está sendo preparado para o seu mercado?”.

Acredito que nem todos nós tenhamos condições de estudar em grandes universidades da nossa área, mas a criatividade da propaganda não é aprendida em sala de aula. Você aprende técnicas, conhece as mais diferentes áreas, analisa o que os outros fizeram mas, ser criativo é um passo que só você mesmo pode dar e, independente de onde estudou, você pode fazer parte dos melhores times de criação. Então, porque diabos nossos cursos não nos falam sobre o acúmulo de função, sobre não ter verba para produzir uma foto, sobre como a palavra cartão é o sobrenome de VT? Sobre como é possível criar e veicular uma campanha gastando menos de R$20.000,00?

Nossas instituições de ensino estão olhando para cima e esquecendo de baixo. Tenho uma agência aqui na minha cidade e a dificuldade sempre é essa; encontrar estagiários que tenham a real noção de como é a publicidade aqui, onde a gente vive e, acreditem: eles não tem e não conseguem entender a realidade, já que ela é bem diferente do que é dito nas universidades.

Então um recado para você que está se formando agora: provavelmente seu primeiro emprego será em uma pequena agência do interior. Então, aprenda sobre o seu mercado, converse com clientes e agências e descubra a realidade por trás da cortina de fumaça criada por professores e cursos por aí. Assim você vai se dar bem, vai criar peças maravilhosas com pouco dinheiro e ter atenção daquele diretor de criação modafoca que você tanto admira lá em São Paulo ou no Rio. Se você não fizer isso, vai penar muito até aprender como convencer um cliente que diz para você que não quer apenas uma frase no meio de uma página em branco. Já que ele pagou um anúncio inteiro, tem que usar a página toda.

Toca ficha e aumenta o logo do cliente.
Não sei se você concorda mas essa é a visão que eu tenho aqui de baixo.

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