"O Protetor 2" é pouco inspirado e se leva a sério demais
Imagem: Denzel Washington stars as Robert McCall in Columbia Pictures’ EQUALIZER 2.

“O Protetor 2” é pouco inspirado e se leva a sério demais

Personagem que vai do nada a lugar nenhum parece já ter vencido os vilões antes mesmo de conhecê-los

por Matheus Fiore

Os heróis urbanos imbatíveis estão na moda. “John Wick” e “Atômica” são, até aqui, os mais bem sucedidos exemplos de um subgênero que começou a brilhar há dez anos com “Busca Implacável”. Em 2014, Denzel Washington resolveu entrar na brincadeira e protagonizou “O Protetor”. Diferente dos três exemplos citados, todavia, “O Protetor” não apostava tanto em combates coreografados milimetricamente e um trabalho de câmera que valorizasse o realismo dos confrontos. O filme de Antoine Fuqua mitifica seu herói de forma mais fantasiosa. O que o protagonista Robert McCall faz é mais importante do que como ele faz.

Chegamos, então, a 2018. Fuqua e Washington estão de volta para “O Protetor 2”, continuação direta da obra original. McCall, agora trabalhando como motorista de um aplicativo, atua como um vigilante das ruas de sua cidade. Sua rotina seguia normalmente até que, um dia, uma velha amiga é assassinada, e Robert decide descobrir quem são os culpados pelo crime.

O diretor Antoine Fuqua no set

Sobre a estrutura, é interessante notarmos que, em relação ao primeiro, “O Protetor 2” espelha o papel do protagonista. Se, na obra de 2014, Robert McCall protagonizou uma chacina e, por isso, passou a ser caçado pelos vilões, aqui, ele é quem está em busca dos culpados por uma massacre. Outro fator curioso é a mudança de ocupação de Robert, que agora trabalha como motorista do Lyft, uma escolha feita na medida para que McCall tenha maior contato com as pessoas de sua cidade e, assim, possa localizar possíveis novas missões – diferente do primeiro filme, quando o herói era mais reativo, aqui, McCall constantemente busca novos crimes para resolver.

O círculo de amizades do herói é composto por seus vizinhos e clientes. O roteiro de “O Protetor 2”, porém, não aproveita as oportunidades criadas pelos encontros do protagonista com seus colegas. O relacionamento de McCall com todos os outros personagens é pouco ou não trabalhado. Há, por exemplo, um idoso que constantemente contrata os serviços de motorista do protagonista, mas sua trama é tão deslocada do eixo dramático, que a conclusão dela é praticamente uma cena pós-créditos, não tendo nenhuma conexão relevante com o plot principal.

Um ponto trabalhado na obra original e que aqui é reaproveitado é o uso do personagem principal como guia moral para alguém mais jovem. Se na obra de 2014, Robert McCall precisava tirar Teri (Chloe Grace Moretz) do mundo da prostituição, aqui, o objetivo é evitar que Miles (Ashton Sanders, a versão adolescente de Chiron em “Moonlight”) entre na vida do crime para sustentar seu lar. Essa divisão entre trama principal e o plot secundário causa uma estranheza em “O Protetor 2”, principalmente pela forma como o filme é montado. Há longos blocos nos quais acompanhamos apenas a uma trama, nos fazendo esquecer que há algo além daquilo – e fazendo com que o retorno à trama anterior pareça sempre um cansativo regresso.

O relacionamento do protagonista com todos os outros personagens é pouco ou não trabalhado

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Assim como no original, a continuação tem em suas cenas de ação a sustentação da obra como um todo. Mas o que vemos, infelizmente, são cenas pouquíssimo inspiradas – e, convenhamos, a ação no filme de 2014 também não era muito boa. Fuqua e seu diretor de fotografia, Oliver Wood, escolhem filmar os combates de Robert McCall com muitos planos fechados e close-ups, provavelmente para disfarçar a ausência de coreografias. Além disso, tais cenas são totalmente picotadas pela montagem, e acabamos sabendo o que acontece de fato muito mais pela edição de som, que delineia com precisão socos, cortes e tiros, do que pelo que de fato vemos.

Esse estilo de ação visualmente retalhado e de difícil compreensão já não obtém tanto sucesso, principalmente por termos, hoje, a referência de filmes do gênero que trabalham sua ação muito mais por planos contínuos e planos sequência – os já citados “John Wick” e “Atômica”, por exemplo, evitam ao máximo cortar durante a ação. “O Protetor 2”, portanto, é um filme que envelhece mal antes mesmo de sair do cinema, pois já nasce esteticamente defasado.

Esse estilo de ação visualmente retalhado e de difícil compreensão já não obtém tanto sucesso nos dias de hoje

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Todos os problemas citados poderiam ser amenizados se “O Protetor 2” fosse um filme consciente de sua situação e, por isso, não se levasse a sério. Infelizmente, Fuqua parece realmente acreditar estar trabalhando na construção de um herói vigilante que mistura Batman e Jason Bourne, mas, pelo fraquíssimo resultado da ação, acaba criando apenas… monotonia. “O Protetor 2” é um filme extremamente tedioso. Quando aposta na ação, o pobre trabalho de mise-en-scène limita o potencial; quando aposta numa trama policial, o total desinteresse por sair de uma trama genérica faz com que o longa tenha poucos atrativos.

Outro fator que contribui para que a obra seja enfadonha é o fato de essas cenas de ação, além de pouco inspiradas, durarem, em sua maioria, menos de um minuto. Em um filme de duas horas com muitos (muitos) diálogos – a maioria deles bem expositiva – é um pecado que a trama faça tão pouco caso dos momentos mais acelerados. Se pegarmos como exemplo o recente “Missão Impossível – Efeito Fallout”, que teve sua trama construída em prol das cenas de ação, “O Protetor 2” parece seguir caminho contrário, sendo um filme de vigilante apesar da ação.

Quando trabalha o suspense e a trama de espionagem, “O Protetor 2” também não se sai muito bem. Uma trama genérica, como muito já vimos no “Domingo Maior” ou no “Super Cine”, até pode ser perdoada, mas repetir tantos clichês de reviravoltas, como faz o filme de Fuqua, acaba fazendo com que não haja nenhuma novidade ou atrativo. Na verdade, a trama de espionagem existe simplesmente para justificar a vilania do filme, já que o roteiro demonstra muito mais engajamento em mitificar McCall como referência moral de seus amigos.

Quando trabalha o suspense e a trama de espionagem, “O Protetor 2” também não se sai muito bem

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Se pelo menos Washington tivesse espaço para imprimir uma atuação encantadora, “O Protetor 2” poderia ter características elogiáveis. Nem isso, porém, acontece, já que é construída ao redor do protagonista uma aura de invulnerabilidade. Robert McCall não só nunca está em perigo, como se comporta como se a vitória fosse apenas uma questão de tempo – e, novamente, se a obra tivesse mais consciência disso e, portanto, não se levasse a sério, poderíamos ter uma satirização interessantíssima.

Una cenas de ação pobres pela execução confusa com um roteiro preguiçoso por não imprimir personalidade a nenhum de seus personagens, e temos um filme tedioso. Junte isso a um protagonista invencível e que consegue, sem esforço ou desgaste, executar suas missões, e temos um filme tedioso e sem nenhuma tensão. Assistir a “O Protetor 2” é uma tarefa desafiadora justamente por sabermos que estamos apenas no aguardo de Robert McCall destruir todos os seus inimigos, sem que nunca tenhamos a mínima insegurança de que algo pode dar errado. E é justamente por termos a certeza de que tudo vai dar certo que “O Protetor 2” dá tão errado.

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