Netflix abraça o espetáculo na CCXP 2019 com a ajuda de “The Witcher” e “La Casa de Papel”
Longa apresentação não impediu público de se entusiasmar com a presença de Henry Cavill e o elenco da série espanhola, ainda que painel de "Esquadrão Seis" prove que ainda há elementos a serem melhorados
Embora faça grandes investimentos na CCXP desde a criação do evento, a Netflix sempre parece estar atrás de um formato definitivo que contemple da melhor forma suas produções originais dentro do auditório Cinemark. O serviço de streaming já fez um tour de praticamente todos os formatos e horários, de painel na quinta-feira com “Marco Polo” até apresentação final do evento com exibição de “Os 6 Ridículos” e “Bright”, passando por múltiplos eventos no sábado e domingo e painel quase protocolar.
Em 2019, a proposta da vez foi apostar em peso-pesados, focando esforços em uma apresentação de 3 horas logo no começo do domingo para evitar o atropelamento da Warner Bros. no fim do dia. Foi uma boa jogada por motivos óbvios, mas também porque a plataforma não se acanhou perante a concorrência e fez do maior espaço sua principal arma para encantar o público do auditório. E reforços não faltaram, especialmente porque a Netflix tinha na mão duas séries de públicos sedentos na CCXP – “La Casa de Papel” e a surpresa do dia “The Witcher” – e material de sobra para apresentar, ao contrário da concorrente Amazon.
Fator surpresa
Também ajudou muito a Netflix que sua apresentação começou literalmente a mil por hora. Depois de um vídeo introdutório rápido, a companhia começou seus trabalhos com o pé na porta ao revelar de primeira que “The Witcher” seria o primeiro painel do dia, revelando no palco a presença de Henry Cavill e a showrunner Lauren Schmidt Hissrich. A mera figura de Cavill no palco foi suficiente para fazer o público da CCXP explodir: os espectadores demoraram algum tempo até acalmar, aplaudindo e gritando sem parar.
Com tanto carinho demonstrado, o ator e Hissrich ficaram muito confortáveis para dar mais detalhes da produção, a adaptação oficial da série de livros de Andrzej Sapkowski – que se converteram posteriormente em uma celebrada franquia de jogos da CD Projekt RED. Depois de declararem no palco que já conheciam a marca antes de serem chamados para o projeto (Cavill através dos games, Hissrich pela literatura), a dupla buscou explicar aos não iniciados o mundo da série enquanto davam detalhes precisos do processo de conversão da franquia para a TV, incluindo seu lado da fantasia e a personalidade do protagonista de Geralt, ao qual o ator descreve como criada a partir de duas faces que coexistem.
“Ele é uma pessoa nobre, mas que é tratado como vilão em todos os lugares que passa.” disse Cavill em determinado momento do painel, comentando pouco depois que o personagem “sempre se encontra na hora errada na situação errada.” e que ele “quer uma vida simples, mas o destino tem outros planos para ele”. Hissrich, enquanto isso, confirmou que a série dará espaço ao vasto elenco feminino, ressaltando que a produção “queria que o público se visse na série” e que esta “refletisse que a fantasia não é só para homens, mas para mulheres também”.
Junto da promessa de uma ação integrada de forma orgânica na narrativa, estas afirmações fazem mais sentido com as cenas que foram apresentadas durante o curso do painel. Foram três momentos do seriado que o público do auditório pode ver em primeira mão: uma de combate generalizado durante uma refeição no castelo, que mostra as habilidades de Geralt e o poder da rainha Calanthe (Jodhi May) para controlar seus soldados; outra que mostra a jovem princesa Ciri (Freya Allan) perdida numa floresta e atrás de Dara quando encontra uma luz amarela mágica e malévola junto de uma tribo de selvagens; e um monólogo da guerrreira Yennefer (Anya Chalotra) para um bebê natimorto à beira de uma praia, onde ela discursa sobre a condição feminina naquele mundo e declara que a criança “venceu o jogo sem saber” ao morrer antes de ser abusada.
Yennefer, vale dizer, foi prometida pela showunner como detentora de um arco dramático complexo e fruto de seu histórico duro, que será explorado em suas interações com Geralt numa relação descrita como “eles odeiam precisarem um do outro”.
O carinho da torcida
Se o entusiasmo da galera com Cavill já parecia gigantesco, a reação com o elenco de “La Casa de Papel” foi acima de qualquer expectativa. Introduzidos logo após um rápido intervalo e sob auxílio de vários “capangas” vestidos com o uniforme icônico do seriado, Alba Flores, Pedro Alonso, Darko Peric, Esther Acebo e Rodrigo de la Serna foram recebidos como estrelas do rock pelo público do auditório, que não parecia conseguir parar de celebrar a presença dos atores e atrizes ali no espaço. Só para começar a apresentação foram pelo menos cinco minutos de demora – afinal, os aplausos e coro pros artistas não parecia se encerrar nunca, algo que continuou acontecendo ao longo das respostas.
O momento acabou muito definido pelo carinho do elenco com os fãs e a própria comemoração do fenômeno global que a série se tornou nestes últimos anos, mas os convidados ainda assim conseguiram falar um pouco sobre a quarta temporada que chega ao serviço no próximo ano para resolver alguns desfechos impactantes do ano anterior. De acordo com de la Serna, o grupo encabeçado pelo Professor “precisará sobreviver” após os últimos eventos e se preparar para a iminente guerra, enquanto o futuro de Nairobi (cuja popularidade rendeu de longe os aplausos mais duradouros do painel a Flores) permanece incerto – “Quem gosta da Nairobi vai sofrer” descreveu a intérprete da personagem no evento.
Além do teaser revelando a data de lançamento da quarta parte (que chega à Netflix no dia 3 de abril de 2020), o evento também divulgou uma cena inédita da nova leva de episódios, que mostra o Professor em fuga de um exército no meio da floresta. Ferido, ele consegue se esconder em um curral, mas para seu desespero acaba encontrando um touro furioso com sua presença.
Uma aterrissagem morna
Com tanta empolgação nos dois primeiros segmentos da apresentação da Netflix, talvez tenha soado como um anti-clímax para a Netflix que seu encerramento se desse com algo como “Esquadrão Seis”. Apesar da expectativa de muitos, o filme de Michael Bay para o serviço de streaming estava longe de possuir o mesmo culto dos antecessores, algo que talvez tenha sido responsável pela queda de rendimento do painel em sua reta final.
Não que o elenco do longa não tenha feito o máximo para suavizar este processo, apesar da ausência de seu diretor. Com uma entrada explosiva, Ryan Reynolds, Mélanie Laurent, Adria Arjona, Manuel Garcia-Rulfo e Corey Hawkins se mostraram bastante entrosados e animados em dividir com o público as emoções de trabalhar em um filme de ação deste porte, até porque eles tiveram orgulho de participar das cenas mais arriscadas orquestradas por Bay.
“Muito da direção de Bay é gritar ‘Mais rápido!!’.” brincou Reynolds em determinado momento, aludindo pouco antes que o diretor teve todo o controle criativo sobre o corte final do projeto – o que chegou a render a piada de que “Este é o Snyder Cut” do longa. Laurent também comentou que a ausência de tela verde e as múltiplas filmagens em locação deixaram os atores animados, em especial porque houve um treinamento físico intenso para permitir que eles trabalhassem junto do time de dublês nas cenas.
O papo sobre bastidores ocupou a maior parte das atenções no painel porque no fundo era o que os atores e atrizes podiam oferecer antes da exibição de um trecho inédito do longa, cujo foco era justo a operação do grupo de “esquecidos” num edifício para extrair um milionário. Como é de se esperar, a ação de Bay é das mais agigantadas, com a “invasão” remodelando espaços a cada momento a partir de novas reviravoltas – um dos agentes é intoxicado pelo gás usado para “apagar” os capangas, os inimigos se multiplicam, a piscina que é estourada para inverter a sorte a favor do grupo. Tiroteios sem dúvida sobram na situação, para o delírio do público do auditório.