Editora da Vogue Teen se demite antes de assumir cargo por tweets homofóbicos e racistas
Publicações foram feitas em 2011 por Alexi McCammond e despertaram repúdio de leitores e equipe da revista
A revista estadunidense Teen Vogue divulgou há duas semanas que Alexi McCammond iria assumir o cargo de editora-chefe da publicação, uma decisão que a princípio parecia ideal dado o histórico de respeito da jornalista. Com 27 anos, McCammond ganhou notoriedade no último na cobertura da campanha presidencial de Joe Biden para veículos como o Axios, a MSNBC e a NBC, ganhando até o prêmio de profissional emergente do ano na Associação Nacional de Jornalistas Negros.
O que era doce virou amargo na última quinta (18), porém, conforme a Condé Nast, dona da revista, confirmou aos funcionários do veículo em um e-mail interno que a nova liderança se demitiu do cargo um dia depois de assumi-lo. A razão envolve uma série de tweets do perfil pessoal da jornalista, publicado há uma década e que incluíam todo tipo de ofensa racista e homofóbica – incluindo aí comentários que estereotipavam asiáticos.
Ressuscitados na esteira do anúncio de McCammond como editora-chefe, as publicações foram escritas quando a jornalista tinha 17 anos e foram publicamente condenados por todas as partes, de leitores a redatores da revista (confira abaixo). De acordo com o New York Times, houve até mesmo pressão de dois anunciantes envolvida na decisão da Condé Nast de se reunir com a editora e decidir “que o melhor era tomar caminhos separados, de forma não ofuscar o trabalho importante que acontece na Teen Vogue”, como bem escreve a companhia no anúncio oficial.
Além de ter emitido um pedido de desculpas a toda a comunidade já na esteira da revelação dos tweets, McCammond voltou a se desculpar pelos posts em uma declaração oficial sobre a demissão, escrevendo que o passado “obstruiu o trabalho que eu fiz para destacar as pessoas e questões que me importo – questões que a Teen Vogue trabalha incansavelmente para compartilhar com o mundo”.
A questão dos tweets de McCammond se tornou um ponto muito delicado nos últimos dias perante a onda de ataques de ódio a comunidades asiáticas e asiática-americanas nos EUA, conforme as ações do ex-presidente Donald Trump e as acusações de que pandemia seria “um vírus chinês” acarretaram no fortalecimento de movimentos supremacistas e racistas no país.
O curioso é que a Condé Nast já tinha noção das publicações quando contratou a jornalista. O CPO da companhia, Stan Duncan, confirma ao Times que McCammond conversou sobre a questão em entrevistas com executivos e que as duas principais lideranças da editora, o CEO Roger Lynch e a CCO da Vogue, Anna Wintour, tinham consciência de parte seu passado – a exceção era uma foto de 2011, em que McCammond aparecia vestida de indígena numa festa de Halloween.
É bom lembrar também que a Condé Nast passou por grande escrutínio de acusações raciais no ano passado, durante os protestos do Black Lives Matter. Enquanto Wintour reconheceu em memorando interno que a Vogue não havia dado espaço suficiente para profissionais negros em sua história, o então editor-chefe da revista Bon Appétit, Adam Rapoport, renunciou à posição após uma foto antiga sua estereotipando porto-riquenhos reapareceu nas redes sociais.