Esopo e a fábula das concorrências
A moral da história pode mudar de acordo com o ponto de vista ou interesse de cada um
Fábulas, assim como antigos episódios de He-Man, são histórias com uma lição de moral no fim. Como a do sapo e do escorpião. Você conhece.
O escorpião pede uma carona pro sapo para atravessar o rio. Diante da lógica que se fosse atacado os dois acabariam morrendo, o sapo decide aceitar. No meio do caminho, claro, é atraiçoado. Por que? “Porque esta é a minha natureza”, diz o escorpião.
Lembro dessa história e penso nas concorrências que andam acontecendo por ai.
Não falo nem de casos como o do CEO do Grupo Kroton, que pegava as ideias e não contratava ninguém. (Claro, era só uma brincadeira disse ele quando foi execrado nas redes.) Falo das concorrências ditas “normais”. Você conhece.
Clientes chamando agências (Oito? Dez? Doze) pedindo para darem tempo e recursos que não tem por um trabalho que – geralmente – não é remunerado.
Numa retrospectiva histórica, a remuneração despencou da casa dos 15% para pouco mais de 4%
Agências acionando produtoras pedindo para darem tempo e recursos que também não tem por um trabalho que, é claro, não é pago. Agora imagine o prejuízo desse círculo desvirtuado num processo com refação, várias fases e até mesmo mudança de briefing.
Imagine se o trabalho escolhido tiver sido feito por freelancers, não representando de verdade o que a agência pode oferecer no dia a dia.
Isso quando todo o processo não é feito apenas para abaixar taxas. Numa retrospectiva histórica, a remuneração despencou da casa dos 15% para pouco mais de 4%. Não por acaso equipes foram juniorizadas e os salários vem caindo ano após ano.
Seria a culpa do incauto sapo, que, tal qual uma Odebrecht, só aceitou participar e dar a carona porque no fim sempre tem alguém que aceita?
Seria culpado o vil escorpião, que na busca incessante de reduzir custos apenas reproduziu o comportamento de outros escorpiões ? Seria simplesmente a natureza das coisas?
A moral da história pode mudar de acordo com o ponto de vista ou interesse de cada um. Para mim estamos prestes a morrer todos abraçados no fundo do rio.